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Renasço sempre que piso a areia molhada dos imensos recantos da “Ria Formosa”. É o momento em que regresso a casa, às origens, às memórias de criança. Tantas e tantas vezes o fiz, incontavelmente; mas de cada vez que o faço, naquele preciso momento, olho em redor, respiro o ar com sabor a maresia; naquele exato momento… é como se fosse sempre a primeira vez; é um despertar de sentidos que é impossível descrever por palavras.
Renascer é chapinhar nas poças da água incrivelmente morna e salgada da “Ria”, durante a maré vazia. Quando observo as inúmeras formas de vida que habitam naquela pequena poça, tudo se mexe à minha volta, basta parar, ficar em silêncio, sentir, observar os caranguejinhos alojados em suas conchas “alugadas”, os minúsculos peixinhos que se aproximam do meu corpo, que tocam os meus dedos, como se de um cumprimento se tratasse.
Renasço cada vez que mergulho na fresca água do oceano, imersa no todo e no nada. É o regressar às águas uterinas do ventre materno. É como se ali pertencesse o meu corpo, o meu ser, desde sempre.
Renascer é sentir aquele zunir da areia fininha por baixo dos pés. Transporto-me para outra vida, de travessia no deserto, onde caminho lentamente por entre as dunas, em busca de abrigo, em busca do oásis que me acoita.
Eu, menina do mar, senhora do deserto, renasço sempre que, aqui e ali, num pequeno paraíso, não sozinha, mas comigo mesma, entro em conexão com a mãe Terra, com todas as formas de vida com quem comunico e que me acolhem nos seus mundos, dentro de um mundo ao qual também pertenço. Dou graças por existir em comunhão e gratidão para com a vida.
Liberdade: “direito ou condição que uma pessoa tem de poder dispor de si”. (in Dicionário de Português, Porto Editora, 198…)
Segundo o Dicionário Mais, Da Ideia Às Palavras, Lisboa Editora, 1997:
- “Liberdade de um país: independência, autonomia, soberania.
- Liberdade de um povo escolher o seu regime político: autodeterminação.
- Garantia constitucional que salvaguarda a liberdade individual e os direitos dos presos: Habeas Corpus.
- Liberdade de expressão: franqueza, sinceridade.”
Liberdade de pensamento, de respeito pelo outro. Liberdade de escolha, de respeito pela escolha alheia.
Liberdade de ação, de agir em conformidade com os meus valores, crenças, opções de vida.
Qual será a definição de liberdade num dicionário 2021? Terá mudado o significado desta palavra numa sociedade democrática que pensamos ter? Ou é apenas um conceito que embeleza os dicionários e as obras literárias?
Terá surgido da utopia do escravo de antigamente? Ou da ilusão do Homem atual?
Será a liberdade um direito de alguns? Será um direito seletivo e condicional?
Ser mulher é ser amor incondicional e compassivo.
Ser mulher é nutrir e cuidar.
Ser mulher é cocriar, gerar.
Ser mulher é a mais elevada expressão da criatividade.
Ser mulher é entrega e recetividade.
Ser mulher é o amanhecer solarengo e anoitecer ao luar.
Ser mulher é ser o elo de conexão entre o Céu e a Terra.
Por tudo isto mulher, conhece-te, equilibra-te, cura-te entre as tuas semelhantes, acede à tua essência feminina sagrada; em equilíbrio, tu és puro potencial.
Através dos teus olhos espreito para outros mundos, outros tempos, outra vida. Tempos felizes, certamente, de uma vida a dois, numa outra época e cultura. Memórias de vidas passadas ou pura imaginação?
Mergulho em teu olhar; esse mar verde profundo, por vezes invernoso, outras vezes de águas límpidas e cristalinas, onde me perco por entre memórias, imagens, pensamentos, de uma realidade alternativa, onde fomos felizes, sem culpas, medos, dúvidas ou hesitações, onde vivemos e morremos a cada momento de união sagrada a que chamámos amor. Sinto na minha pele o calor de teus braços, como se fosse hoje, aqui, agora, nesta vida, onde somos dois desconhecidos. É como se o tempo voltasse atrás para permitir o reencontro de nossas almas.
Ouço música que me envolve num ritual de amor e fé.
Eu, ser em mudança, vivo momentos de conexão e gratidão.
Gratidão pela magia da eternidade; pela alegria que ressoa em mim; que preenche a sala de sorrisos, olhares, abraços…
Gratidão a meus semelhantes; eles sabem quem são. Eles permitem-me, eu permito-me, experienciar momentos de perfeita harmonia, para comigo e com o outro.
Gratidão pela consciência que cresce em mim, a cada dia que sigo dançando pelas entrelinhas da vida.
Lembro-me de uma das perguntas de Alice: “Quanto tempo dura a eternidade?”; à qual o Coelho responde: “Depende, às vezes apenas um segundo.”
Gratidão pelos segundos de eternidade que vivencio com júbilo e amor incondicional à mulher que sou hoje.
Criatividade, trago-a comigo. Todos nós a temos, a capacidade de criar, no interior de nós mesmos; anseia por descobrir coisas novas, mudar de perspetiva. Para reavivá-la basta algo subtil, ou uma mudança radical. Na verdade, não interessa a dimensão da mudança; importa sim mudar, sair da zona de conforto, seguir o coração, a intuição e deixar ir.
O caminho está mesmo à frente dos meus olhos; tantas vezes especulei ir por ali, mas encontrei sempre um obstáculo, uma interrupção, uma parte por contruir… medo. Até que um dia o Universo coloca-me naquela mesma interrupção, no momento exato em que todas as possibilidades se reúnem para me permitir passar, saltitando de pedra em pedrinha. Hesitei… o medo, sempre o medo, o maior inimigo da criatividade. E se não consigo regressar? Perguntei eu já dando ouvidos ao meu ego. Inspirei fundo aquele ar salgado, desci a vertente e lá fui à descoberta. Tinha um novo trecho de percurso à minha frente. Na realidade tantos outros já o tinham percorrido; não interessa, para mim era novo, nunca antes por ali deambulei. Estava sozinha, mas não em solidão, estava comigo mesma. Andei alguns metros e cheguei ao meu destino, um lugar já conhecido, não importa, a maneira de lá chegar foi diferente. Foi assim a minha pequena mudança daquele dia, o meu sopro de criatividade.
Depois desta, certamente outras oportunidades surgirão, basta um passo noutra direção, ou uma “inversão de marcha”, se necessário. O importante é evitar estagnar, não deixar morrer o espírito aventureiro que existe em cada um de nós, que nos conecta com o que verdadeiramente somos.
Se estagnamos numa rotina que se repete dia após dia, por medo de arriscar, de cair, de nos magoar, ficamos cada vez mais desligados da Essência que nos nutre e nos incentiva a saborear a aventura da vida. Excitante, emocionante, composta de aprendizagens diversas, de pequenas e grandes mudanças; assim é a passagem pela condição de sermos humanos.
Hoje curei-me… com a luz do Sol e a pureza do sal, com o chilrear dos pássaros e o suave som da água a correr nos regatos.
Hoje curei-me… com o sussurro do vento e a carícia da brisa fresca de final de tarde.
Hoje curei-me… nas asas de uma cegonha e no alegre latir daquele cachorro.
Hoje voei com aquela cegonha, corri com aquele cachorro, pelo meu mundo mágico para onde regresso quando preciso o reencontro comigo.
Hoje relembrei a dor da perda e a alegria da dádiva; chorei para saborear sorrir; silenciei para valorizar a voz da palavra dita com o coração.
Hoje vivi mais um dia; mergulhei nas sombras em busca da luz que existe na essência do ser que sou, menina, adolescente, adulta, mulher.
Hoje curei-me…
O Que Diz o Monstro:
“Tu és aquela gaivota que quer voar mais além.
Que busca em sua volta a felicidade e o bem.
A tua energia vibra como luz forte no escuro.
É algo que me cativa, apaga o meu lado obscuro.
Agradeço-te porque me fizeste uma pessoa mais positiva.
Pintaste meu ser agreste de cor, emoção e vida…”
O Que Diz a Bela:
Escrevi aquele texto há cerca de vinte anos atrás, quando o monstro que me dominava pensava que não tinha valor, que era feio, desinteressante e não merecia ser amado. Enfim… ele era o monstro e a sua monstruosidade era tal que queria o amor do exterior sem se amar a si mesmo.
Hoje reescrevo a minha história; depois de quase três anos de viajem ao interior de mim mesma, depois de muitos confrontos com o monstro que habita dentro de mim. Atrevo-me a dizer, que habita dentro de cada ser humano; aquele que vive na sombra, que é a sombra, sente-se mal por ser sombra, mas prefere lá continuar.
Hoje, nesta véspera de Natal atípica, sinto-me tal qual Fénix, a renascer das cinzas. Foi um processo lento, difícil, doloroso? Sem dúvida que sim. Mas valeu a pena, vale sempre a pena ir às entranhas de mim mesma para recuperar o meu poder pessoal, apaziguar o monstro, que aos poucos se transformou em monstrinho de tanto amor que recebeu, para despertar a mulher poderosa, maravilhosa e iluminada que sou; dotada de capacidades únicas e inconfundíveis.
Na realidade, cada um de nós é um ser único e iluminado, basta aceder à essência, à sua energia original.
Dúvidas e medos, continuam a aparecer; é para isso que cá estamos, nesta experiência humana, para nos confrontarmos com as nossas sombras, tomarmos consciência delas e limpá-las, em amor e perdão. Agora o desafio é, ir além dos medos e dúvidas, e arriscar, arriscar sentir emoções maravilhosas, trilhar novos caminhos, viver aventuras excitantes. Sem esse risco, a vida não tem sabor, não há crescimento, não há aprendizagem.
Se nos ancoramos, para o resto da nossa existência humana, às mágoas do passado, ficamos estagnados, perdemos a nossa luz interior, simplesmente deixamos de crescer, apenas envelhecemos, à espera da morte inevitável e de outra oportunidade para ter outra vida após nascer de novo.
A oportunidade é agora! A vida é preciosa demais para ficarmos à espera, agarrados ao passado. Nada é garantido. A única garantia que temos é aqui e agora, enquanto ainda estamos cá, neste planeta. O desafio é mesmo esse, não nos acomodarmos a uma “vidinha”, responsabilizarmo-nos pelas nossas mágoas e agradecermos àqueles que nos fizeram sentir magoados; fez parte do acordo de crescimento mútuo, da lição que deverá ficar aprendida. A partir daqui, é seguir caminho, em busca de mais crescimento, de novas aprendizagens. Garanto-vos, por experiência própria, que a dada altura desta maravilhosa jornada, começamos a atrair experiências, aprendizagens e pessoas cada vez mais gratificantes, a viver cada vez mais momentos de pura alegria, a sentir que realmente a vida é significativa.
Se continua a haver dor? Logicamente que sim, faz parte do processo. Mas até a maneira como encaramos a dor é diferente, porque já sabemos porque é que dói, já conseguimos limpá-la em tempo real e assim, o sofrimento reduz-se a cinza, transmutada em luz, que alimenta a chama pessoal, deixando-nos curados, em amor.
O grande desafio é este, viajar ao interior do próprio ser, vencer as contrariedades e infortúnios dos tempos atuais e renascer em amor, puro e incondicional.
Saudades de dançar; deslizar pelo salão, abrir as asas e voar, rodopiar até perder o norte. Deixar-me envolver pela magia do momento; a troca de sorrisos, os olhares cúmplices que se cruzam, no desafio mútuo de se entenderem no desenrolar da dança, em sintonia.
Saudades da imensa alegria que a dança me transmite; a satisfação de sentir a vida no bater de coração acelerado, após o ritmo frenético de uma salsa ou da emoção calorosa de um tango.
Saudades até de sentir as pernas bambas, os pés a latejar, depois de um serão bem regado de dança.
Saudades dos dançarinos exímios com quem tive o privilégio de dançar; dos “pés de chumbo” que corajosamente se esforçavam por pôr em prática todas as suas lições.
Não há palavras com as quais consiga descrever todas as sensações que a dança desperta, quando dançada de coração; leveza, satisfação, plenitude, entrega, magia, são apenas uma amostra dentro do misto de emoções “vividas à flor da pele”.
Aguardo ansiosamente pelo regresso à liberdade de exprimir-me por meio de movimentos harmoniosos, na sensualidade de uma dança.
Final de tarde de Halloween para muitos que adotaram os costumes de outras bandas do mundo. Para mim apenas uma linda tarde de sábado, com um Sol de outono maravilhoso, convidando a mais uma caminhada, como tantas que tenho feito na sua presença.
Deambulei pela periferia da cidade meio deserta, rumo ao destino e objetivo a que me propus. Caminhei, atenta aos sons, às alterações da paisagem urbana, às poucas pessoas com quem me cruzei. Segui em frente, sem paragens ou hesitações, focada no meu objetivo de jornada – fotografar a sede do Parque Natural da Ria Formosa, imaginando-me como alguém que pela primeira vez visita este local.
Cheguei ao meu destino; apresentei-me junto do segurança como residente na localidade e aí começou a minha aventura. Sem me aperceber fui transportada para outra dimensão deste mesmo lugar; junto do segurança apareceu um enorme e anafado gato, de pelagem bicolorida de um branco luminoso e um negro intenso. Enquanto se roçava nas pernas do seu companheiro humano, subtilmente abriu-me o portal daquela floresta encantada, que só eu conseguia vislumbrar.
Tal como “Alice no País das Maravilhas”, segui viajem pelas entranhas daquele lugar, explorando cada recando, observando seres mágicos que esvoaçavam à minha volta, sentido cada odor único que a suave humidade daquele final de tarde acentuava, a melodia das águas que escorriam pelos regatos do sapal, o aroma quente da perpétua das areias, a frescura do pinhal. O Sol veio despedir-se, brindando-me com os seus raios alaranjados.
Poucos minutos depois cumprimentou-me a penumbra, deixando-me um pouco assustada, pois transportou-me para a vastidão de locais mais sombrios daquela floresta mágica. Parei na lagoa de água doce, para me tranquilizar e observei as aves que já se preparavam para descansar, numa tremenda algazarra que me deixou curiosa. Fechei os olhos, agucei a minha terceira visão e percebi o porquê daquela gritaria. Animadamente, elas comunicavam com seres luminosos, de todas as cores, descrevendo as suas façanhas daquele dia. Estavam alegres por estarem vivas, por lhes ser permitido cuidar amorosamente das suas crias durante a época estival, por se sentirem protegidas naquele recôndito e agradeciam, agradeciam entusiasticamente àqueles seres de luz, por as escoltarem.
Abri os olhos e verifiquei que já conseguia avistar a Lua no azul intenso do céu. Uma Lua redonda, de um dourado esbranquiçado brilhante; estava distante e, por isso, parecia mais pequena que a Lua cheia a que estamos habituados.
A Lua Azul de Halloween, no seu apogeu de distanciamento da Terra, acompanhou-me durante o resto do meu percurso pela magia da escuridão, tranquilizando e aquietando a minha mente. Terminei a tarefa de “fotografa da natureza” e decidi estar na hora de regressar à dimensão da realidade humana. Oiço o som do miado do “gato das botas”, desta vez invisível aos meus olhos, e atravesso o portal em direção a casa, tendo a minha amiga Lua como guarda-costas discreta.
Durante o percurso de retorno cruzei-me com personagens da época medieval; recebi o sorriso do cavaleiro medieval, alto, imponente, de longa cabeleira e barba brancas, que seguia feliz, abraçado à sua dama de tempos longínquos, de cara rosada e tranças brancas, naturais da idade. Acompanhavam-nos as respetivas aias, que os escoltavam, atrás.
Perguntei a mim mesma se estaria ainda na dimensão do "País das Maravilhas"! Talvez sim; afinal de contas, apesar de não dar grande importância à data, ali estava eu, na noite de Halloween, iluminada pela mágica Lua Azul. Conclui que, estando desperta e disponível, posso viajar para outras dimensões continuando em mim mesma. Tudo se torna possível quando acreditamos na nossa mais elevada “muitíssidade”!